Será alergia ou intolerância alimentar?

A linha que separa a alergia de uma intolerância alimentar pode ser muito ténue para grande parte da população. Neste artigo, vamos explicar-lhe as diferenças entre uma alergia alimentar e uma intolerância alimentar e que alimentos as podem causar.

Estima-se que em Portugal, numa década, a alergia alimentar aumentou em 18%, tendo aumentado em 50% nas crianças, onde esta doença é mais prevalente.⁽¹⁾ Paralelamente, um quarto da população portuguesa apresenta algum tipo de intolerância alimentar, sendo que esta se desenvolve com a idade.⁽²⁾

Posto isto, o panorama das alergias e das intolerâncias alimentares tem ganho um grande destaque dado o seu crescimento exponencial na população. Será alergia ou intolerância?

Imagem 1: Existem alimentos que causam alergias ou intolerâncias alimentares.

 O que são a alergia e a intolerância alimentar?

A alergia alimentar decorre de uma resposta imunitária específica que ocorre sistematicamente à exposição a um determinado alimento. Já a intolerância alimentar é o conjunto de reações não imunes que incluem mecanismos metabólicos, tóxicos, farmacológicos e mecanismos indefinidos.⁽³⁾

Por outras palavras, no caso da alergia, o organismo reconhece uma proteína, erradamente, como um agressor, utilizando anticorpos para se defender. Este agressor é, na verdade, o alergénio e o responsável pela causa da alergia. É, portanto, uma reação adversa e exagerada do sistema imunológico.⁽⁴⁾

Contrariamente, a intolerância não envolve o sistema imunológico. Trata-se sim de uma reação adversa que decorre da ingestão de um determinado alimento. Esta resulta de um problema digestivo ou de uma resposta a substâncias que estão presentes nos alimentos (naturalmente ou adicionadas).⁽⁴⁾

Quais os tipos mais comuns de alergias e de intolerâncias alimentares?

Imagem 2: Os tipos mais comuns de alergias e intolerâncias alimentares.

 Os alimentos da lista acima são responsáveis por 90% das reações alérgicas, sendo que existem outros alergénios com menor prevalência, como o aipo, a mostarda ou o tremoço ⁽¹⁾.

Qual a diferença entre a alergia ao leite e a intolerância à lactose?

De uma forma simples⁽⁴⁾

• A alergia ao leite dá-se quando o sistema imunitário reconhece as proteínas presentes neste alimento (caseína, lactoalbumina e lactoglobulina) como “estranhas”, desencadeando um conjunto de reações alérgicas para se defender;

• A intolerância à lactose dá-se quando o organismo não é capaz de digerir este açúcar, que está naturalmente presente no leite. Isto acontece porque a lactase, enzima que digere a lactose, está em falta no organismo.

Com isto, nos casos de alergia ao leite, é necessário remover todos os alimentos que possam conter este ou vestígios do mesmo. Contudo, nos casos de intolerância à lactose, a maioria destes não necessita de adotar uma dieta com ausência total de lactose;⁽⁴⁾

 

Imagem 3: Os tipos mais comuns de alergias e intolerâncias alimentares.

Quais os sintomas da alergia e da intolerância alimentar?

Os sintomas de uma alergia alimentar são diversos e podem variar entre moderados, graves e até fatais, destacando-se sintomas cutâneos, respiratórios, digestivos e cardiovasculares. Em alguns casos, por mínimo que seja o contacto com o alergénio, pode-se desencadear um choque anafilático (uma reação repentina e generalizada por todo o corpo que pode levar à morte)⁽⁴⁾ ;

Quanto aos sintomas de uma intolerância alimentar, são frequentes sintomas digestivos, cefaleias, dores nas articulações, fadiga e mal-estar geral. ⁽⁵⁾.

Como se diagnosticam a alergia e a intolerância alimentar?

O diagnóstico de alergia alimentar deve ser feito por um médico imunoalergologista, com base na história clínica e através de exames complementares. Por outro lado, quanto ao diagnóstico de intolerância alimentar, este é feito por experiências e fases de “tentativa erro” com os alimentos que se pensa que possam estar a provocar a intolerância;⁽⁵⁾

Como se tratam a alergia e a intolerância alimentar?

Em ambos os casos, o primeiro passo é proceder à evicção alimentar, isto é, excluir da dieta tanto o alimento causador da doença como outros que possam conter vestígios deste. Para isto, é fundamental ler os rótulos dos produtos alimentares pré-embalados, de forma a identificar os alergénios presentes ^{(1,4, 5)}. Os alergénios encontram-se devidamente destacados (em letras maiúsculas e/ou a negrito) na lista de ingredientes dos produtos.

 

Imagem 4: É essencial ler os rótulos para identificar os alérgenos presentes.

 

Para além disto, quem está diagnosticado com uma alergia alimentar, deve fazer-se acompanhar de um kit de adrenalina e de uma medicação anti-histamínica. Isto permitirá combater qualquer reação anafilática causada por uma reação alérgica ⁽⁴⁾.

Quanto às intolerâncias alimentares, o mais seguro é ir testando e avaliando, variando as doses do alimento não tolerado. Isto porque, à partida, doses mais pequenas distribuídas ao longo do dia poderão não desencadear sintomas adversos ⁽⁴⁾.

Contudo, é importante prevenir e evitar défices nutricionais que possam ocorrer por se excluir determinado alimento. ⁽⁵⁾

Assim, nestes casos, o acompanhamento por um nutricionista revela-se fundamental para uma melhor qualidade de vida.

Conclusão - a reter:

Assim:

1. A alergia alimentar ocorre com maior frequência na infância, apesar de ocorrer de forma continuada ao longo de toda a vida;
2. A intolerância alimentar desenvolve-se com a idade;
3. O sistema imunológico está envolvido na alergia alimentar, mas não está envolvido na intolerância alimentar, sendo esta a principal diferença entre estas doenças;
4. O diagnóstico de alergia alimentar deve ser feito por um médico, com base na história clínica e através de exames complementares;
5. O diagnóstico de intolerância alimentar deve ser feito por fases de “tentativa erro”;
6. É fundamental ler os rótulos dos produtos alimentares pré-embalados, para identificar os alergénios presentes nestes e fazer escolhas conscientes que não coloquem em risco a sua saúde.

Foto: Tom Hermans 

Bibliografia:

1.Pádua I, Barros R, Moreira P, Moreira A, Graça P, Carrelhas H. Alergia alimentar na restauração. Direção Geral da Saúde; 2016.

Lusíadas. Intolerância alimentar: identifique os sintomas. 2022. Available in: https://www.lusiadas.pt/blog/doencas/sintomas-tratamentos/intolerancia-alimentar-identifique-sintomas.

2.Gargano D, Appanna R, Santonicola A, De Bartolomeis F, Stellato C, Cianferoni A, et al. Food Allergy and Intolerance: A Narrative Review on Nutritional Concerns. Nutrients. 2021; 13(5)

3.Ciência MdEed. Alergia Alimentar. 2012.

4.Luz Hd. Alergia alimentar e intolerância alimentar. 2020. Available in: https://www.hospitaldaluz.pt/pt/dicionario-de-saude/alergia-alimentar-e-intolerancia-alimentar.